
A Focus Cia de Dança encerra 2024 em alto e bom som no Rio de Janeiro, após cumprir uma agenda de quase 70 apresentações em todo o Brasil, incluindo a estreia de um trabalho inédito, o aclamado “Entre a pele e a alma”, com trilha cantada por Ney Matogrosso.
Agora, a companhia dirigida por Alex Neoral apresenta o vigoroso programa De Bach a Nirvana na Série Sala em Movimento, na Sala Cecília Meireles, de 12 a 14 de dezembro.
O público assistirá a quatro peças coreográficas de intensidades distintas, moduladas em cena pela interpretação dos bailarinos, que se apresentam com um quinteto de cordas consagrado.
A partir da obra do alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), maior nome da música barroca, e do nevrálgico som do Nirvana, banda de rock norte-americana eternizada por Kurt Cobain (1967-1994), astro morto no auge da fama, Alex Neoral elaborou as peças coreográficas. Elas integram os espetáculos “Um a um” e “Interpret.”, apresentados na França e no Canadá.
As duas pontas do tempo encontram conexão através do quinteto de cordas formado pelos músicos Erika Ribeiro (piano), Samuel Passos (viola), Nikolay Sapoundjiev (violino), além de Emilia Ivova Valova e Daniel Silva (violoncelos).
De Bach a Nirvana é dançado por Bianca Lopes, Carolina de Sá, Cosme Gregory, Letícia Tavares, Lindemberg Mallí, Paloma Tauffer, Yasmin Almeida e Wesley Tavares, com participação especial de Luísa Vilar e Márcio Jahú.
A temporada é viabilizada através do patrocínio oficial da Petrobras e da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Realização: Ministério da Cultura. A Focus Cia de Dança tem patrocínio oficial da Petrobras desde 2013.
Conexões Bach-Nirvana
De Bach a Nirvana traz conexões e contextos complementares. “’Um a um’ e ‘Interpret.’ foram apresentados na Bienal de Lyon, na França, e ‘In-finito’ estreou em Montreal, no Canadá, ambos têm Bach como inspiração”, explica Neoral.
Em “In-finito”, o coreógrafo inspira-se na ideia do fluxo sem fim. Com oito bailarinos em cena, o símbolo do infinito (com a forma semelhante ao número oito) se fortalece, ao som da Sonata n. 5 para piano e violino. Bailarinos “quebram a quarta parede”: a dança inclui os corredores da sala e a margem do palco. Todas as ações formam o todo convergindo para a ideia de infinito.
“Um a um” é uma peça que traz uma pesquisa incessante de mecanismos e soluções de dois corpos juntos. Os 16 duetos acontecem sucessivamente, até o momento que um solo masculino se opõe à repetida troca de pares. A peça termina com a junção do coletivo, que se torna um corpo único. “Interpret.” encadeia-se a Chaconne, em Ré Menor, para violino solo. Conhecida por sua complexidade, a peça de Bach instiga cinco bailarinos, corpos a princípio em ações expansivas, parecendo rasgar o espaço, e em sequência em gestos contidos. Em meio a tal exploração antagônica, o violinista Nikolay Sapoundjiev se move entre os bailarinos, tal qual uma espécie de regente.
Ao longo de seus 30 anos de trajetória, Neoral imprime ao corpo estilos musicais de todos os tempos, com e sem a palavra como bússola. “A participação dos músicos que tocam em cena é fundamental. A passagem em que o violinista orienta a coreografia traz mais um elemento ao quadro de expressões. O corpo dele também está ali participando! São diálogos permanentes. Além disso, fiz uma pesquisa sobre duos e cheguei a compor até 25 pas-de-deux. Apresentamos também na Bienal de Lyon, na França, conquistando o impacto que é intrínseco ao universo de Bach”, analisa o diretor.
De 2009, “Strong Strings”, que foi apresentado pela primeira vez no Cello Dance, se baseia na obra da banda Nirvana, referência obrigatória para os anos 1990. “Naquele momento, o rock influenciou algumas obras da Focus. Antes, fizemos o primeiro espetáculo da Cia, VÉRTICE e até algumas obras anteriores que usei versões em cordas de músicas do Metallica, inclusive, essas obras com a participação da minha sócia, Tati Garcias, ainda no elenco”, relembra Neoral. Dois quadros da composição formam De Bach a Nirvana.